Como identificar e apoiar quem sofre com o transtorno de personalidade narcisista em uma era que o culto à própria imagem é quase uma regra?
Por que, Caetano Veloso, em sua música “Sampa”, recrimina sua própria vaidade dizendo “É que Narciso acha feio o que não é espelho”? Diz o mito, contado pelo poeta romano Ovídio (43 a.C.-18 d.C.) em sua obra “Metamorfoses”, que Narciso era um jovem belo e vaidoso que desprezava todos que ousassem querer conquistá-lo. Durante um passeio pelo bosque, Narciso encontrou uma fonte de água cristalina e acabou apaixonando-se pelo próprio reflexo. A espera para ser correspondido (em vão) fez com que Narciso definhasse e morresse à beira da fonte.
O termo “narcisismo” nasce, dessa forma, na mitologia grega e passa a ser utilizado para classificar atitudes de quem nutre uma paixão por si ou por sua própria imagem. Quando esta condição provoca comportamentos de grandiosidade exagerada e completa falta de empatia, compreende-se como um transtorno psiquiátrico.
A pessoa diagnosticada com transtorno de personalidade narcisista superestima a própria capacidade, exagera suas realizações, exige privilégios, tende a subestimar ou explorar a capacidade alheia e sente uma necessidade constante de admiração. No entanto, nem toda pessoa narcisista apresenta os mesmos comportamentos. Há aquelas que costumam ser extrovertidas, dominantes e arrogantes e, por outro lado, há aquelas tímidas e com baixa autoestima.
Diagnóstico do transtorno de personalidade narcisista na era da imagem
No artigo “O ideal do eu: a identidade narcisista e o Ciberespaço” da Revista Travessias, relata-se que o acesso às diversas redes sociais disponíveis torna possível o aumento da cultura narcisista. Diferentemente de Narciso do mito, uma pessoa de hoje que possui tendências narcisistas não ficará se autocontemplando em frente à um espelho, mas passará longas horas de contemplação nos espaços virtuais. Identificar alguém que sofre com o transtorno de personalidade narcisista em uma cultura que fomenta essa prática, pode ser um desafio.
De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), os sinais e sintomas ocorrem a partir da adolescência (fase essa também de iniciação nas redes sociais), quando se percebe uma discrepância na cognição, na afetividade e no controle de impulsos. “Não se sabe a causa do transtorno de personalidade narcisista, podendo ser o resultado de um conjunto de fatores genéticos e ambientais (relacionamentos abusivos na infância) que moldam as características do indivíduo até a idade adulta”, destaca Antônio Geraldo da Silva, psiquiatra e presidente da ABP.
Com frequência, outros transtornos coexistem e, por buscar tratamento para essas outras condições, a pessoa com transtorno de personalidade narcisista acaba recebendo este diagnóstico. Os outros quadros podem ser:
- Depressão;
- Anorexia nervosa;
- Adição a substâncias, como álcool e drogas sintéticas;
- Extroversão exacerbada;
O psicodrama como ferramenta para manter o equilíbrio em tempos de imersão às tecnologias digitais
Por não buscarem tratamento, é comum que as pessoas com transtorno de personalidade narcisista tenham problemas nos relacionamentos, apresentando quadros de depressão, ansiedade, isolamento social, pensamentos ou comportamentos suicidas.
Terapia cognitiva-comportamental e a psicodinâmica, indicada para o tratamento dos quadros decorrentes do transtorno de personalidade narcisista, podem ser muito eficazes no diagnóstico.
O psicodrama, por ser uma abordagem que estimula o contato e o desenvolvimento humano no estabelecimento de inter-relações transformadoras, saudáveis e profundas, para além dos espaços virtuais, pode auxiliar no equilíbrio de quem precisa lidar com essa condição. Conheça mais sobre nossos cursos.
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